Pólvora de Barreiros abastece a Nasa
Folha de Pernambuco
Uma fábrica de explosivos pode ser fantasiada por muitos como um cenário de guerra. Ao imaginá-la, vem à mente pessoas de preto, um super esquema de segurança e muita tecnologia. Uma visita à Elephant Indústria Química, em Barreiros, na Zona da Mata Sul do Estado, a 116 quilômetros do Recife, é suficiente para colocar boa parte deste quadro por água abaixo. Não pela falta de perigo, mas pela produção artesanal evidenciada pelo maquinário alemão de mais de 100 anos. Equipamento necessário para elaborar a pólvora utilizada no lançamento de foguetes e ônibus espaciais da NASA – Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço, com sede na capital norte-americana, Washington.
Cerca de 90% da substância produzida em Barreiros tem os Estados Unidos (EUA) como destino. Uma das maiores clientes é a Diamondback Chemical, empresa da cidade de Tamaqua, na Pennsylvania, que, além de fabricar parafusos e explosivos para a NASA, é responsável pelos fogos de artifício de alguns dos principais parques de diversões norte-americanos. Os exércitos brasileiro e dos EUA também estão na lista da Elephant, mas o mercado de armas ficou reduzido após a criação do Estatuto do Desarmamento – em vigor no Brasil desde o fim de 2003.
A Elephant se junta a outras três fábricas (nos EUA, Alemanha e Suíça) como as únicas produtoras de pólvora no mundo. Os grupos costumam trabalhar sob encomenda. Tanto é que só 12% da capacidade máxima de 80 toneladas/mês da unidade brasileira é usada normalmente. Ainda assim, os pernambucanos despertam interesse e já negociam duas fortes parcerias. “A Diamondback quer aumentar a encomenda porque ocorreu um acidente por lá e eles não estão conseguindo renovar os seguros. E o pessoal da Lafarge (empresa francesa do ramo de materiais de construção) esteve aqui há poucas semanas”, conta o proprietário e diretor Industrial da Elephant, Carlos Artur Avellar Júnior, conhecido como Carlinhos da Pedreira.
O empresário opta por fugir das cifras na maioria das vezes. Não é por menos. Apesar de nunca ter se envolvido com política, a influência na cidade e o conturbado mandato do atual prefeito Antônio Vicente de Souza (PSB) fez com que ele disparasse como pré-candidato, também do PSB, às eleições municipais. Adianta que adquiriu dez equipamentos do Paraná, cada um avaliado em R$ 200 mil, para elaborar cordéis detonantes – explosivos empregados por mineradoras.
O artefato vai se somar à pólvora e a dinamite, sendo este último com uma produção de 500 toneladas/mês, escoada pela Elephant em território brasileiro. Tudo regulamentado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e registrado no Exército nacional, garante o agora político (com todos os traços já evidentes). Sobre o faturamento da empresa, no entanto, Carlinhos, que também possui uma pedreira, como o apelido indica, prefere não falar.