Natural de Vitória, Joelsonbiu realiza exposição Infinitamente Sertão no Recife

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Natural de Vitória, Joelsonbiu realiza exposição Infinitamente Sertão no Recife

A mostra, que abriu na quinta (15), traz esculturas inéditas que exploram o semiárido como invenção poética e política

Por Portal Folha de Pernambuco

O artista pernambucano Joelsonbiu inaugurou, na quinta-feira (15.05), a exposição Infinitamente Sertão, na Número Galera, em Boa Viagem, zona sul do Recife.

Sob curadoria de Joana D’Arc Lima, a mostra traz trabalhos inéditos do artista, esculturas em cerâmica que reinventam o sertão a partir de uma perspectiva em que se cruzam o mítico, o bruto, o sensível e o cotidiano.

A exposição parte de um sertão imaginado, porém, profundamente enraizado nas vivências e no imaginário de Joelsonbiu, natural de Vitória de Santo Antão, na Mata Sul de Pernambuco.

Inspirado por narrativas orais, memórias de infância, literatura, cinema e teatro, Joelsonbiu cria colunas cerâmicas que evocam elementos da cultura popular, do realismo fantástico e de uma visualidade radicalmente autoral.

Mostra
Entre formas orgânicas e simbólicas, o artista constrói um “sertão infinito”, onde cabem tanto Shakespeare quanto Ariano Suassuna, Raduan Nassar ou imagens eróticas do século 19, tudo costurado por uma estética que desafia fronteiras entre o sagrado e o mundano, o público e o íntimo.

Joelsonbiu conta que o sertão de sua obra é geográfico e, também, quanto inventado.

“Eu sou da zona da mata, de Vitória de Santo Antão, mas o que me contavam sobre o sertão era outra coisa. Eu inventei uma vegetação, um ambiente, a partir dessas histórias que ouvi quando criança. Era uma construção imaginária, uma fabulação minha do que seria o sertão”, revela.

Com dez grandes peças de cerâmica montadas a partir da sobreposição de peças únicas, Joelsonbiu presta uma homenagem à obra Coluna Infinita, do artista romeno Constantin Brancusi, ressignificando o gesto construtivo a partir de sua própria experiência e pesquisa.

Curadoria
São múltiplas as referências simbólicas e materiais que atravessam “Infinitamente Sertão”. Da força do barro à composição cromática das peças, passando pelo diálogo com a história da arte, com o cinema e com a própria experiência marginal da arte popular nordestina.

“‘Infinitamente Sertão’ nos desloca para a complexidade de um território imaginado, quimérico e potencializado pela força vital e vontade de vida desse artista radical e intempestivo”, escreve Joana D’Arc Lima no texto curatorial.

“Eu venho acompanhando a pesquisa e a poética de Joelsonbiu há muitos anos. Sua inquietude estética e seu envolvimento com a cerâmica como linguagem expressiva sempre me interessaram. O projeto ‘Infinitamente Sertão’ nasceu da pesquisa dele sobre forma, escultura e ocupação do espaço, que culminou na criação das colunas-totens, base da exposição, e no filme-documentário ‘O Duque de Capuleto’.” Joana também observa que a proposta atual da exposição é ousada.

“A Número Galeria apostou na ideia de que o sertão é fluido, movediço, complexo e fantástico. Aqui, os trabalhos selecionados abordam temas como violência, desavenças familiares, ancestralidade e fabulação. Ao mesmo tempo, o visitante é levado a um universo poético, por meio de objetos cerâmicos que evocam utilitários coloniais e arquiteturas simbólicas.”

Além das esculturas
A exposição apresenta, também, objetos como Matriz da Luz, trabalho que incorpora medalhões e cornucópias inspirados em imagens fotográficas de nus femininos e cenas eróticas do final do século 19 e início do 20.

Esses elementos, de acordo com Joelsonbiu, funcionam como portais entre o caos e a ordem, o estabelecido e o marginal, o visível e o oculto.

Política

“O artista que se preza se coloca politicamente, mesmo sem levantar bandeira. A cerâmica conta a história do mundo. É feita de restos, de coisas que foram destruídas e depois reutilizadas. Os grandes museus estão cheios de peças coladas, reconstruídas, com marcas de guerras e erosões. Cerâmica é humanidade em forma de arte”, diz Joelsonbiu, que acrescenta: “É como se você abrisse as portas e corresse desesperadamente e infinitamente em busca do que você nem sabe exatamente o que vai encontrar.”

SERVIÇO
Exposição “Infinitamente Sertão”, de Joelsonbiu | curadoria de Joanna D’Arc Lima
Onde: Número Galeria – Rua Professor Eduardo Wanderley Filho, 187 (térreo), Boa Viagem – Recife-PE
Informações: @numerogaleria