Pierre, o ‘menestrel dos trios elétricos’, recebe caloroso adeus da Vitória de Santo Antão
Por Lissandro Nascimento
O cantor Jean Pierre dos Santos, que faleceu aos 39 anos no último domingo (27/12), foi calorosamente saudado por milhares de pessoas durante o seu cortejo fúnebre na tarde desta segunda-feira (28). Durante o velório instalado na Câmara de Vereadores da Vitória de Santo Antão, na Mata Sul, recebeu inúmeras homenagens de artistas, autoridades, dirigentes de agremiações e fãs que o acompanharam ao longo dos quase 20 anos, sobretudo durante os três dias carnavalescos no comando do Bloco A Girafa, uma das agremiações mais tradicionais da Festa de Momo vitoriense. Por onde passavam, carros de som estavam na vanguarda do cortejo tocando as músicas que entoavam as suas melhores interpretações, sob a guarda do caminhão do Corpo de Bombeiros, atestando a importância do artista para a cultura pernambucana. A Prefeitura local decretou 03 (três) dias de luto oficial pela lamentável perda daquele que sempre animou nos últimos anos o Carnaval vitoriense.
Provoquei no título desta postagem a denominação “menestrel dos trios elétricos”, por que de fato assim era o Pierre a Pressão. Para melhor entender, ainda na Idade Média, menestrel é o artista que, a serviço da Côrte ou autonomamente, trabalhava recitando ou cantando poemas em versos, normalmente esse artista não os compunha, apenas os declamava. De modo que Pierre era um trovador; artista, poeta e ou músico, que recitava poemas através da música ou por declamação, e o fazia com destreza, abnegação e singular talento em cima dos trios elétricos.
Durante o percurso para ser sepultado no Cemitério São Sebastião era visível nas calçadas, praças, varandas e edifícios, a aglomeração espontânea dos cidadãos vitorienses que lhe rendiam um último olhar de respeito e comoção. A cada passo, a impressão que se tinha com os alaridos dos carros de som, era que A Girafa se aproximava com Pierre. “Gostava da sua humildade. Era um cara que das vezes que o encontrava no comércio e ou restaurantes, ele sempre mim cumprimentava”, salientou o Girafeiro Wylker Matos, de 21 anos, que participa da Girafa desde os 15.
A genuína espontaneidade do sentimento carnavalesco, que por sinal, é tricentenário para o povo de Vitória, mergulhou em multidões concentradas e espalhadas ao longo da via. Lojas comerciais renderam suas portas em sua homenagem, centenas de torcedores do Santa Cruz foram vestidos com as mesmas cores que abordavam o seu caixão com a bandeira tricolor, pelo qual era um fervoroso torcedor, além de outros vestidos com a camisa de várias edições da Girafa. “É difícil acreditar que ele se foi. Falei com ele antes do Natal. Parecia bastante ansioso para a chegada do Carnaval”, declarou Thiago Mendes, de 23 anos.
Artistas como Vânia América somava-se lacrimejante a dezenas de outros anônimos chorosos. Talentos vitorienses, a exemplo de Jonatha Chocolat, Nildo Ventura, Bruno Barros, Ewerton di Paula, Ricardo Rico, dentre outros acompanhavam desconsolados a perda de seu colega de profissão.
O ex-vocalista do grupo Asas da América, onde atuou por 15 anos, chegou a ser socorrido para o Hospital da Restauração (HR), no Derby – Recife, mas não resistiu as cinco paradas cardíacas vindo a óbito, para a surpresa de todos em Pernambuco. O corpo do artista passou por exame tanatoscópio no Instituto de Medicina Legal (IML), que confirmou infarto fulminante em decorrência da morte. O laudo completo será divulgado daqui a 30 dias. Atualmente, o artista seguia carreira solo desde 2010, quando assumiu a marca “A Pressão de Pernambuco”. Contudo, sua primeira atuação artística foi aos 15 anos como vocalista da Banda Realce, em Vitória.
O cantor era um importante patrimônio do Bloco A Girafa e também se apresentou por várias vezes no Galo da Madrugada. No seu portfólio de shows, inúmeras cidades o referenciavam do litoral ao Sertão, a exemplo de Tamandaré e São Bento do Una, ambas declaradamente apaixonadas por Jean Pierre. “Gosto muito de carnaval desde quando era criança e nosso pai nos trazia da Usina para ver a folia na cidade. Nos últimos anos, quando os fogos explodiam com a saída da Girafa eu corria de casa para ver Pierre cantando o hino, que eu adoro”, testemunhou Gerusa Muniz, de 66 anos, moradora do Bairro do Livramento, em Vitória.
Ao chegar ao Cemitério, a força contagiante do frevo pernambucano tocado pelas Orquestras Ciclone e Venenosa, incendiou os corações sôfregos dos que lhe foram dar o último adeus. Hinos da Girafa e do Santa Cruz foram tocados, bem como o frevo “Último Regresso”, emocionaram a multidão presente na porta do Cemitério.
“Pierre era uma figura talentosa. Suas interpretações não se apegavam tão somente a musicalidade. Havia vibração, entusiasmo e um sinal de rebeldia”, declarou Elismar Roque, da banda instrumental do Exército. Sob aplausos, a população entregou o corpo de Pierre a terra das lembranças e das eternas saudades.
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