Por Lissandro Nascimento

A Câmara de Vereadores da Vitória de Santo Antão concedeu a Comenda Martha Hollanda a destacada liderança do movimento pelo empoderamento feminino Maria Socorro Santos, uma das fundadoras do Centro das Mulheres de Vitória. Uma das maiores honrarias da Casa Diogo de Braga é entregue a personalidades que se destacam pelo serviço prestado à cidade. A homenagem foi proposta pelo vereador André Carvalho (PDT) durante a tarde da terça-feira (11.06), em reconhecimento ao trabalho singular da ativista em fortalecer nas últimas décadas a rede de proteção à mulher na Zona da Mata pernambucana.

A Comenda Martha Hollanda é dedicada às mulheres com protagonismo na política, militância, gestão pública e empreendedorismo; a qual se transformou na Lei Municipal nº 4.929/24 homologando merecidamente Socorro Santos pela ilustre distinção.

A trajetória de Socorro Santos, que completou 72 anos nesta quarta (12.06), vem desde seus primeiros passos acompanhando o seu pai, o saudoso Manuel Santos, fundador do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da Vitória de Santo Antão, em 1961. O pai de Socorro, vale ressaltar, foi o primeiro vereador comunista eleito na cidade no início da década de 1980. Ela é formada em Assistência Social pela Universidade de Pernambuco (UPE) e foi a primeira mulher vitoriense a assumir a Secretaria da Mulher na Prefeitura de Vitória, sob a gestão do ex-prefeito José Aglailson.

Socorro também protagonizou a criação da Rede de Mulheres nas Zonas da Mata Norte e Sul do Estado, tendo sua atuação partidária sempre vinculada ao campo da esquerda. Outro fato histórico foi quando fundou o Centro das Mulheres em Vitória de Santo Antão no dia 08/03/1988, havendo uma inédita passeata com mais de três mil mulheres que tomou as ruas centrais da cidade, a qual a entidade funciona até hoje.

Várias personalidades destacaram as qualidades da homenageada ao conceder a Comenda Martha Hollanda durante uma emocionada sessão solene na Câmara Municipal. Karla Santos, filha da homenageada, lembrou emocionada de todas as vezes que sua genitora acolhia em sua casa mulheres em situação de vulnerabilidade e dos momentos em que sacrificou o aconchego familiar para estar presente às lutas por avanços sociais.

Em seu discurso de agradecimento, Socorro Santos expressou sua gratidão pelo reconhecimento, ressaltando o significado especial da homenagem, considerando sua referência diante da luta emancipadora da mulher pernambucana. “O sentimento de muita gratidão pelo reconhecimento, principalmente pela peculiaridade do que representou para Pernambuco nossa conterrânea vitoriense Martha Hollanda. Assim como ela, eu nunca tive medo de falar”, ressaltou Socorro.

Diante de um Plenário lotado por dezenas de mulheres, parte delas vindas de outros municípios, Socorro Santos lembrou em seu discurso dos sacrifícios que teve que fazer para estruturar a Rede de Mulheres no Estado, bem como mencionou casos absurdos cometidos contra ela e outras mulheres que prestou assistência através do Centro, além de citar a perseguição política sofrida vinda de setores de uma sociedade machista.

Acolhida por abraços, presentes e buquês de rosas, Socorro Santos foi ovacionada pelo legado construído ao longo de sua militância social e política. “Gostaria verdadeiramente que Deus mim desse mais anos de vida, mas creio que já cumpri minha missão aqui”, avaliou. Cabe registrar que em período passado, Socorro sagrou-se curada de um câncer.

A cerimônia contou com a presença da Gerente Geral do Centro das Mulheres da Vitória – Marta Silva, de Hérika Araújo e Bruna Moraes (ambas da Rede Sustentabilidade), da Professora Clícia Roberta presidente do PT/Vitória, e convidados especiais que celebraram juntas essa conquista.

SOBRE MARTHA HOLLANDA

Nascida em Vitória de Santo Antão, em 1903, Martha de Hollanda Cavalcanti é historicamente conhecida por sua luta em favor da causa feminina no início do século 20. Pesquisadores apontam que, entre os anos 1920 e 1930, período da juventude da ativista, a sociedade sofria intensas influências do patriarcalismo, em que jovens e senhoras eram condicionadas às vontades dos homens – principalmente nas cidades do interior de Pernambuco.

A militante foi casada com o também escritor José Teixeira de Albuquerque, residente da cidade de Pombos, com o qual não teve filhos. Ainda aos 28 anos, Martha fundou a Cruzada Feminista Brasileira, um movimento pernambucano de conscientização política feminista. Foi a partir das movimentações da Cruzada Feminista que alcançou o título de primeira eleitora de Pernambuco. O nome de Martha foi inscrito à lista de eleitoras de Vitória de Santo Antão no dia 15 de março de 1933, quando aos 30 anos, tornou-se a primeira mulher com direito ao voto em Pernambuco.